Viagem ao Sri Lanka
Depois de um voo numa espécie de nave espacial (já decidi que só vou escolher destinos em função de onde houver Emirates; palavra de honra, senti -me uma saloia da aviação até entrar naquele Rolls Royce) chegamos a um país muito calmo, muito ordeiro, com pessoas parecidas com as da Índia mas muito diferentes em serenidade, em civilização, em silêncio até. A paisagem é de planícies de palmeiras com uma selva baixinha. Do nosso enorme quarto no meio de uma área natural vemos os elefantes a passear.
Em suma, estamos muito bem, muito contentes. Minha rica agência que me proporciona estes mimos.
Vantagens do Sri Lanka: é pequeno. As distâncias são curtas e não massacraram. As estradas são bastante boas. Tomara a minha rua. O trânsito é quase tão civilizado como na Europa. Há poucos carros. As semelhanças com a Índia são longínquas, nas estradas e em muitas outras coisas. Não há o hábito de buzinar. Não se vê miséria e as casas são de alvenaria e bem arranjadas. Por outro lado, as mulheres quase não usam saris. A comida é muitíssimo saborosa e variada, mas a que pica é a valer. Há a mania das terapias ayurvédicas, o que significa massagens e óleos e afins. Há pouco fizemos uma que só nos fazia pensar em anedotas de canibais, porque nos barraram com algo que cheirava a comida com especiarias. As semelhanças com algo anteriormente visitado estão mais perto da Birmânia e do Cambodja, com uns laivos de Goa, do que da Índia em geral. A escolaridade é enorme. E o budismo reina, explicando a calma simpatia das pessoas. A temperatura é quentinha sem ser horrível (muito importante). De manhã chega a estar fresco. Por fim, há leite com fartura - até há a escolha entre vaca e búfala. É para estar contente! Até vocês cá podiam vir, vejam bem.
Agora em relato mais clássico, subimos a Fortaleza de Sigiriya, bem imponente, e visitamos as ruínas de Polonnaruwa (a única forma de eu memorizar a escrita disto foi pensar num frango a andar na rua), que traz reminiscências de Angkor com as pirâmides aztecas. Ecletismo! E quanto a Kandy, a cidade com nome de doce? Começamos no Templo do Dente de Buda (Dalada Maligawa, há muito tempo o templo mais célebre do país e património Unesco), onde assistimos a uma cerimónia bastante concorrida e intensa. Nestas situações já há mais semelhanças com a lembrança da Índia. Gostei. Depois fomos a um jardim enorme, muito diversificado em flora e até com fauna pitoresca: *raposas voadoras*, macacos a praticar a catadela social, etc. Muito bonito e refrescante num dia deveras quente. Justifica mais horas! De tarde tivemos enfim tempo para andar por nossa conta, em boa hora, porque tanta dondoquice já estava a causar -me prurido. A impressão geral continua muito positiva. Este é claramente um país já no topo do segundo mundo. Há bastante ordem, limpeza, qualidade de serviço e até aquela indiferença civilizada face ao turista. Não há, como noutros sítios, a curiosidade por saber de onde somos, se temos família, filhos, etc. Muitas pessoas não sabem a diferença entre Portugal e Espanha apesar da história colonial do país e dos vestígios no léxico. Considerando que nas lojas e nos espectáculos há folhetos em checo e polaco mas não em português, fica clara a confrangedora incompetência da nossa diplomacia cultural e comercial.
O nosso condutor-guia Tissa, senhor já com alguma idade, é de exemplar aprumo, competência e discrição. Não se podia pedir melhor. E felizmente não é servil, mesmo num país que mantém tácito e visível o prolongamento do colonialismo. Esse é talvez um dos aspectos menos felizes (e tirar os sapatos para entrar nos templos, claro!).
Nwara Eliya é zona de antigo esplendor colonial, ainda muito bem mantido. Estamos nas terras altas onde se cultiva o chá e onde uma das mais famosas plantações se chama, helàs, Pedro, precisamente, um nome português. O comboio foi interessante mas ainda não chega aos pés do nosso Douro. A paisagem é mais bonita ao vivo e de perto.
Vimos um leopardo enquanto fazíamos um safari no parque de Yala. Também constaram do cardápio os búfalos, crocodilos, elefantes, veados e diversas aves. Depois da montanha, eis-nos agora junto à costa.